Eles caminham por entre as cinzas
De vidas fatigadas a beira da ruína
Por entre lágrimas, tiros e quedas
O existir é sua única disciplina
Há tantos séculos perambulam pelos escombros
Por entre desilusões, suicídios e quimeras
De corações vazios e almas tão saturadas
E de suas carcaças no relento ao redor das crateras
O homem deve se render e deve aprender
A sabedoria de se vagar sem saber
Guiado pelo espírito e não por doutrinas
Deixar a vida viver e a morte morrer
Para que na virtude procure abrigo
E que na serenidade faça seu jazigo
Se alimentando dos corpos à beira do precípicio
Dos que não se atiraram por medo de dar fim ao início
Criaturas que por Deus se tornam tão inimigas
E o fazem tão contente com a sua fazenda de formigas
Por mais que morram à míngua perambulando nas estradas
Pisoteados e violentados por tantas almas frustradas
Quem sabe um dia se conformem que a humanidade morreu
E então afirmem com veemência que todo Cão é um Deus
Ó santíssimo soturno e saturnino
Por incontáveis eras tão puros e caninos
Ensinem me a viver e me devorem ao morrer
Para que assim eu me torne um de vocês
Os cães são deuses…